quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Entrevista a Flashvidas em 2012

CONFISSÕES

MARCO D’ALMEIDA: "EU CORRO SEMPRE ATRÁS DA FELICIDADE" 


Actor confessa que sente saudades dos afecto



A viver há dois anos em Espanha, o actor Marco d’Almeida confessa que sente saudades dos 
afectos, dos amigos e da família. Inquieto por natureza, conta que não consegue estar muito tempo 
no mesmo lugar e garante que apesar de desejar ser pai, este ainda não é o momento ideal 
para assumir essa responsabilidade.
- Dá vida à personagem do rei Juliano no filme ‘Madagáscar 3’. Como foi esta experiência? 
- É a terceira vez que dou voz a esta personagem e divirto-me sempre imenso. 
Tive a sorte de me calhar este boneco.
- Como é que surgiu esta oportunidade?
- Por casting. Nos grandes filmes de animação, as vozes são sempre 
avaliadas e enviadas para os Estados Unidos e lá é que decidem se a voz
 é aceite. É preciso haver uma certa aproximação à voz do actor 
original. O mais engraçado de tudo é que, no primeiro filme, estava a 
fazer a voz e a meio da dobragem lembrei-me de dar um sotaque a
fricano à personagem. A equipa de produção adorou e decidiu voltar atrás
 e gravámos tudo desde o início com sotaque. 
- As vozes de algumas personagens já não são as do primeiro filme. 
No caso do rei Juliano, não fazia sentido ser outra pessoa a dar 
voz a esta personagem?
- Disseram-me: ‘É impossível encontrar alguém para te substituir’, 
o que é bastante lisonjeador para mim. Foi algo que me deixou muito 
contente.
- Já faz dobragens de desenhos animados há muitos anos?
- Acho que comecei a fazer no ‘Madagáscar’ e, entretanto, já fiz outros
 trabalhos.
- Gosta deste tipo de projectos?
- Sim. É um lado bastante interessante. As pessoas, às vezes, pensam 
que é fácil, que é daquelas coisas que fazemos em casa por brincadeira,
 mas não é. É um acréscimo à parte técnica que eu tenho como actor. 
Fazer a voz de um boneco e meter na boca dele, que ainda por cima está 
feita para um idioma que não é o nosso, não é nada fácil.
- É algo que o fascina ou faz por diversão?
- As duas coisas. Divirto-me sempre imenso a fazer isto. Há qualquer 
coisa na animação que nos remete para a nossa infância. Lembro-me
 de desenhos animados que via em criança e recordo-me de algumas vozes. 
Nunca me tinha passado pela cabeça, há uns anos, ser eu a voz de um boneco,
 e sempre que faço estas dobragens fico como se fosse um miúdo.
- Como é que recorda a sua infância?
- Feliz, muito feliz. Acordava bem cedo só para ir ver desenhos animados.
- Este trabalho acabou por ser um pequeno regresso a Portugal.
- Estou há dois anos em Espanha, mas tenho vindo muitas vezes a Portugal. 
Estive a rodar, até Maio, um filme em Lisboa 
[‘O Comboio Nocturno para Lisboa’]. 
- Vem com frequência a Portugal?
- Sim, ou para matar saudades ou em trabalho.
- E adaptou-se bem a Espanha?
- Sim. Sou uma pessoa que se adapta muito bem, mas sinto falta 
da parte afectiva, dos amigos e da família, apesar de e
starmos em contacto permanente. 
- O que é que tem feito?
- Faço dobragens, em português, para o canal de desenhos animados
 da Disney, que são gravadas nos estúdios da Disney Ibérica, em 
Madrid e fiz um filme espanhol, ‘Miel de Naranjas’.
- O filme recebeu vários prémios...
- Sim, recebeu vários prémios em festivais. É um filme importante
 para mim. Fiz um papel muito pequeno, aliás, foi mais uma 
participação, mas é interessante porque trabalhei com novas
 equipas e assim as pessoas vão conhecendo o meu trabalho.
- Participar num filme destes abre portas?
- Sim, mas nunca vivo a pensar no que é que as coisas me podem dar.
 Quando recebo os convites nunca estou à espera. São presentes 
que recebo, porque fiz papéis em que me dediquei e mostrei o 
meu valor. É uma recompensa, porque alguém viu um trabalho meu
 e gostou.
- Neste momento está com algum projecto em mãos?
- Tenho sempre algumas coisas que vou fazendo. Gosto muito de 
realização, escrita e montagem. Gostava de ter bases sólidas para, 
quando me apetecer ou tiver oportunidade, ir para o outro lado das
 câmaras. Tenho sempre coisas para fazer e não fico à espera que o
 telefone toque. Não gosto de estar parado, antes pelo contrário, 
gosto de me mexer.
- Está a pensar voltar, em breve, definitivamente para Portugal?
- Definitivamente, acho que nunca vou para lado nenhum. Estou
 em Espanha e, sinceramente, não foi uma decisão muito inteligente
 da minha parte. Saí de um país prestes a rebentar e fui para
 um que acabou por ficar igual. O meu percurso de vida sempre
 foi mais nómada do que propriamente de me fixar num sítio. 
Para construir uma carreira, como fiz em Portugal, são precisos 
alguns anos para trabalhar e as pessoas nos conhecerem. Mas não
 me imagino para sempre em Espanha e a não voltar para Portugal.
- Tem convites para trabalhar em Portugal?
- Recebo propostas com regularidade. Sou um privilegiado, porque 
durante muitos anos amealhei o suficiente para estar numa situação
 confortável e não ter de dizer sim a tudo. Não tenho de vir cá 
sempre que recebo um convite. Venho cá quando se justifica, como
 foi o caso do ‘Madagáscar’. Se calhar, se estivesse no Japão e
 me ligassem para vir fazer o filme, eu vinha, não por uma questão
 económica mas pelo divertimento e continuação da personagem.
- O que é que o levou a deixar o nosso País?
- Queria apostar na formação na área da realização, escrita e 
montagem.
- Portugal é demasiado pequeno para si?
- Não. Portugal é um País enorme e sempre foi. Portugal no mapa
 está praticamente no centro do Mundo, mas as pessoas que têm 
vindo nos últimos tempos a adoptar políticas para o nosso País não 
são as melhores. Tenho viajado bastante na minha vida e à medida 
que vou viajando, cada vez gosto mais de Portugal. É um País enorme
 porque oferece muita riqueza e variedade, de Norte a Sul.
- Viaja por divertimento ou as suas viagens têm de ter sempre 
uma componente cultural?
- As duas coisas. Por exemplo, a Índia conheci porque fui fazer 
a série ‘Equador’, estive a filmar durante quinze dias e depois
 aproveitei para ficar mais tempo para conhecer melhor o país. 
Viajo culturalmente para conhecer novos países, povos, línguas e
costumes.
- Antes de partir trabalhava sobretudo para a TVI. Tinha contrato 
de exclusividade?
- Sim, tinha.
- Não achou que era muito arriscado perder um contrato desse tipo?
- É óbvio que é arriscado desistir de uma estabilidade dessas. 
Eu sou muito inquieto e corro sempre atrás da minha felicidade, da 
minha realização e dos meus sonhos. Prefiro arriscar, mergulhar de 
cabeça mesmo sem saber no que vai dar. Depois tenho o retorno das 
minhas acções e pago a factura daquilo que faço.
- Nunca se arrependeu de ter escolhido a área da representação?
- Jamais. Foi sempre o que eu quis, desde pequeno.
- Sempre apostou muito na carreira. É formado na Escola 
Profissional de Cascais, mas prosseguiu estudos dramáticos no
 estrangeiro. Porquê?
- Não gosto de estar quieto e sempre tive uma ânsia enorme de aprender.
- Portugal não tem escolas suficientemente boas para formar actores?
- Antes pelo contrário. Temos professores excelentes e aprende-se
 imenso com eles. Mas no estrangeiro trabalhamos noutra língua
 e pude fazer musicais, que na altura ainda não havia cá. 
Lá fora têm outra tradição, que não é melhor mas é complementar.
- Já fez televisão, teatro e cinema. Em qual dos três se sente mais 
realizado?
- A maior parte das vezes não tem a ver com o meio, mas sim com as 
pessoas e com o projecto. Para mim, a satisfação é como para os cantores,
 uma coisa é estar no estúdio e outra é um concerto ao vivo. 
Nesse aspecto, o teatro é o teatro, é bom saber que estão várias
 pessoas a ouvir aquela história e receber aplausos no final
 da peça é muito gratificante. A televisão é a coisa mais passageira,
 o cinema é uma arte que é sempre vista e revista e o teatro é o 
momento e acabou. 
- Além de representar, também escreve. Começou por vontade própria?
- Comecei a escrever muito cedo. Alguém sabia que eu tinha vontade 
de escrever e contar histórias e propuseram-me escrever um episódio 
de ‘Casos da Vida’, na TVI. Fiquei fechado em casa durante quinze 
dias, com o telemóvel desligado, e mesmo sem ter prática nenhuma
 esforcei-me e consegui. Foi a prova de fogo e saiu bem. Fiquei muito 
contente.
- E quando é que vamos ver um filme de Marco D’Almeida?
- Havemos de falar, espero eu (risos). 
- Tem algum projecto grande em mente?
- Todos os projectos que nós fazemos devem ser grandiosos,
 mas depois se é grandioso ou não logo se vê. Tenho sempre ideias, 
aliás, acho que é uma das minhas principais características.
- Com tanto trabalho, tem tempo para a sua vida pessoal?
- Sim, é tudo uma questão de equilíbrio. Há momentos em que o 
trabalho me ocupa mais tempo, mas eu sei que depois vou ter de 
compensar não só pelos outros mas também por mim.
- É muito ligado à sua família?
- Sou e não sou. Não preciso de estar sempre com a minha família, 
mas preciso de saber que está tudo bem. Contamos uns 
com os outros, incondicionalmente, mas não tenho necessidade de lhes 
ligar todos os dias. 
- Ainda não tem filhos. Gostava de ser pai?
- Sim, quando fizer 40 anos. Gostava que fosse o meu próximo passo
 em termos pessoais. Acho um bocadinho disparatado ser pai ou mãe aos
 20 anos. Ter filhos é de certa forma condicionante, por exemplo, s
e eu já fosse pai esta mudança para Espanha teria sido mais complicada. 
Eu ainda não quero isso mas hei-de querer. Não quero ser um pai 
ausente, quero acompanhar o crescimento do bebé e para isso é preciso
 abdicar de algumas coisas. Até agora ainda não quis ser pai por estas 
razões.
- Tem sido uma decisão ponderada?
- Sim, nunca foi uma coisa do género ‘vou adiar’, foi simplesmente 
porque eu queria viver e não ter essa responsabilidade. A minha 
profissão implica, por vezes, estar muito tempo fora e não queria
 ter de passar por isso. Como vejo a minha vida, muito agitada, 
acho que ainda não estou preparado para ser pai. Quero estar, 
mas ainda não estou. 
INTIMIDADES
- Quem gostava de convidar para um jantar a dois?
- O rei Juliano, do filme ‘Madagáscar’.
- Quem é para si a mulher mais sexy do Mundo? 
- A minha vizinha da frente.
- O que não suporta no sexo oposto?
- Isso depende de pessoa para pessoa.
- Qual é o seu maior vício?
- Música.
- Qual foi o último livro que leu?
- ‘O Comboio Nocturno para Lisboa’, de Pascal Mercier.
- O filme da sua vida? 
- Não consigo escolher. Há vários filmes que marcaram momentos
 da minha vida, mas não consigo escolher apenas um.
- Cidade Preferida?
- Nova Iorque.
- Um desejo?
- Conseguir realizar filmes.
- Complete. A minha vida é...
- Bela.


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