CONFISSÕES
MARCO D’ALMEIDA: "EU CORRO SEMPRE ATRÁS DA FELICIDADE"
Actor confessa que sente saudades dos afecto
A viver há dois anos em Espanha, o actor Marco d’Almeida confessa que sente saudades dos
afectos, dos amigos e da família. Inquieto por natureza, conta que não consegue estar muito tempo
no mesmo lugar e garante que apesar de desejar ser pai, este ainda não é o momento ideal
para assumir essa responsabilidade.
no mesmo lugar e garante que apesar de desejar ser pai, este ainda não é o momento ideal
para assumir essa responsabilidade.
- Dá vida à personagem do rei Juliano no filme ‘Madagáscar 3’. Como foi esta experiência?
- É a terceira vez que dou voz a esta personagem e divirto-me sempre imenso.
Tive a sorte de me calhar este boneco.
Tive a sorte de me calhar este boneco.
- Como é que surgiu esta oportunidade?
- Por casting. Nos grandes filmes de animação, as vozes são sempre
avaliadas e enviadas para os Estados Unidos e lá é que decidem se a voz
é aceite. É preciso haver uma certa aproximação à voz do actor
original. O mais engraçado de tudo é que, no primeiro filme, estava a
fazer a voz e a meio da dobragem lembrei-me de dar um sotaque a
fricano à personagem. A equipa de produção adorou e decidiu voltar atrás
e gravámos tudo desde o início com sotaque.
avaliadas e enviadas para os Estados Unidos e lá é que decidem se a voz
é aceite. É preciso haver uma certa aproximação à voz do actor
original. O mais engraçado de tudo é que, no primeiro filme, estava a
fazer a voz e a meio da dobragem lembrei-me de dar um sotaque a
fricano à personagem. A equipa de produção adorou e decidiu voltar atrás
e gravámos tudo desde o início com sotaque.
- As vozes de algumas personagens já não são as do primeiro filme.
No caso do rei Juliano, não fazia sentido ser outra pessoa a dar
voz a esta personagem?
No caso do rei Juliano, não fazia sentido ser outra pessoa a dar
voz a esta personagem?
- Disseram-me: ‘É impossível encontrar alguém para te substituir’,
o que é bastante lisonjeador para mim. Foi algo que me deixou muito
contente.
o que é bastante lisonjeador para mim. Foi algo que me deixou muito
contente.
- Já faz dobragens de desenhos animados há muitos anos?
- Acho que comecei a fazer no ‘Madagáscar’ e, entretanto, já fiz outros
trabalhos.
trabalhos.
- Gosta deste tipo de projectos?
- Sim. É um lado bastante interessante. As pessoas, às vezes, pensam
que é fácil, que é daquelas coisas que fazemos em casa por brincadeira,
mas não é. É um acréscimo à parte técnica que eu tenho como actor.
Fazer a voz de um boneco e meter na boca dele, que ainda por cima está
feita para um idioma que não é o nosso, não é nada fácil.
que é fácil, que é daquelas coisas que fazemos em casa por brincadeira,
mas não é. É um acréscimo à parte técnica que eu tenho como actor.
Fazer a voz de um boneco e meter na boca dele, que ainda por cima está
feita para um idioma que não é o nosso, não é nada fácil.
- É algo que o fascina ou faz por diversão?
- As duas coisas. Divirto-me sempre imenso a fazer isto. Há qualquer
coisa na animação que nos remete para a nossa infância. Lembro-me
de desenhos animados que via em criança e recordo-me de algumas vozes.
Nunca me tinha passado pela cabeça, há uns anos, ser eu a voz de um boneco,
e sempre que faço estas dobragens fico como se fosse um miúdo.
coisa na animação que nos remete para a nossa infância. Lembro-me
de desenhos animados que via em criança e recordo-me de algumas vozes.
Nunca me tinha passado pela cabeça, há uns anos, ser eu a voz de um boneco,
e sempre que faço estas dobragens fico como se fosse um miúdo.
- Como é que recorda a sua infância?
- Feliz, muito feliz. Acordava bem cedo só para ir ver desenhos animados.
- Este trabalho acabou por ser um pequeno regresso a Portugal.
- Estou há dois anos em Espanha, mas tenho vindo muitas vezes a Portugal.
Estive a rodar, até Maio, um filme em Lisboa
[‘O Comboio Nocturno para Lisboa’].
Estive a rodar, até Maio, um filme em Lisboa
[‘O Comboio Nocturno para Lisboa’].
- Vem com frequência a Portugal?
- Sim, ou para matar saudades ou em trabalho.
- E adaptou-se bem a Espanha?
- Sim. Sou uma pessoa que se adapta muito bem, mas sinto falta
da parte afectiva, dos amigos e da família, apesar de e
starmos em contacto permanente.
da parte afectiva, dos amigos e da família, apesar de e
starmos em contacto permanente.
- O que é que tem feito?
- Faço dobragens, em português, para o canal de desenhos animados
da Disney, que são gravadas nos estúdios da Disney Ibérica, em
Madrid e fiz um filme espanhol, ‘Miel de Naranjas’.
da Disney, que são gravadas nos estúdios da Disney Ibérica, em
Madrid e fiz um filme espanhol, ‘Miel de Naranjas’.
- O filme recebeu vários prémios...
- Sim, recebeu vários prémios em festivais. É um filme importante
para mim. Fiz um papel muito pequeno, aliás, foi mais uma
participação, mas é interessante porque trabalhei com novas
equipas e assim as pessoas vão conhecendo o meu trabalho.
para mim. Fiz um papel muito pequeno, aliás, foi mais uma
participação, mas é interessante porque trabalhei com novas
equipas e assim as pessoas vão conhecendo o meu trabalho.
- Participar num filme destes abre portas?
- Sim, mas nunca vivo a pensar no que é que as coisas me podem dar.
Quando recebo os convites nunca estou à espera. São presentes
que recebo, porque fiz papéis em que me dediquei e mostrei o
meu valor. É uma recompensa, porque alguém viu um trabalho meu
e gostou.
Quando recebo os convites nunca estou à espera. São presentes
que recebo, porque fiz papéis em que me dediquei e mostrei o
meu valor. É uma recompensa, porque alguém viu um trabalho meu
e gostou.
- Neste momento está com algum projecto em mãos?
- Tenho sempre algumas coisas que vou fazendo. Gosto muito de
realização, escrita e montagem. Gostava de ter bases sólidas para,
quando me apetecer ou tiver oportunidade, ir para o outro lado das
câmaras. Tenho sempre coisas para fazer e não fico à espera que o
telefone toque. Não gosto de estar parado, antes pelo contrário,
gosto de me mexer.
realização, escrita e montagem. Gostava de ter bases sólidas para,
quando me apetecer ou tiver oportunidade, ir para o outro lado das
câmaras. Tenho sempre coisas para fazer e não fico à espera que o
telefone toque. Não gosto de estar parado, antes pelo contrário,
gosto de me mexer.
- Está a pensar voltar, em breve, definitivamente para Portugal?
- Definitivamente, acho que nunca vou para lado nenhum. Estou
em Espanha e, sinceramente, não foi uma decisão muito inteligente
da minha parte. Saí de um país prestes a rebentar e fui para
um que acabou por ficar igual. O meu percurso de vida sempre
foi mais nómada do que propriamente de me fixar num sítio.
Para construir uma carreira, como fiz em Portugal, são precisos
alguns anos para trabalhar e as pessoas nos conhecerem. Mas não
me imagino para sempre em Espanha e a não voltar para Portugal.
em Espanha e, sinceramente, não foi uma decisão muito inteligente
da minha parte. Saí de um país prestes a rebentar e fui para
um que acabou por ficar igual. O meu percurso de vida sempre
foi mais nómada do que propriamente de me fixar num sítio.
Para construir uma carreira, como fiz em Portugal, são precisos
alguns anos para trabalhar e as pessoas nos conhecerem. Mas não
me imagino para sempre em Espanha e a não voltar para Portugal.
- Tem convites para trabalhar em Portugal?
- Recebo propostas com regularidade. Sou um privilegiado, porque
durante muitos anos amealhei o suficiente para estar numa situação
confortável e não ter de dizer sim a tudo. Não tenho de vir cá
sempre que recebo um convite. Venho cá quando se justifica, como
foi o caso do ‘Madagáscar’. Se calhar, se estivesse no Japão e
me ligassem para vir fazer o filme, eu vinha, não por uma questão
económica mas pelo divertimento e continuação da personagem.
durante muitos anos amealhei o suficiente para estar numa situação
confortável e não ter de dizer sim a tudo. Não tenho de vir cá
sempre que recebo um convite. Venho cá quando se justifica, como
foi o caso do ‘Madagáscar’. Se calhar, se estivesse no Japão e
me ligassem para vir fazer o filme, eu vinha, não por uma questão
económica mas pelo divertimento e continuação da personagem.
- O que é que o levou a deixar o nosso País?
- Queria apostar na formação na área da realização, escrita e
montagem.
montagem.
- Portugal é demasiado pequeno para si?
- Não. Portugal é um País enorme e sempre foi. Portugal no mapa
está praticamente no centro do Mundo, mas as pessoas que têm
vindo nos últimos tempos a adoptar políticas para o nosso País não
são as melhores. Tenho viajado bastante na minha vida e à medida
que vou viajando, cada vez gosto mais de Portugal. É um País enorme
porque oferece muita riqueza e variedade, de Norte a Sul.
está praticamente no centro do Mundo, mas as pessoas que têm
vindo nos últimos tempos a adoptar políticas para o nosso País não
são as melhores. Tenho viajado bastante na minha vida e à medida
que vou viajando, cada vez gosto mais de Portugal. É um País enorme
porque oferece muita riqueza e variedade, de Norte a Sul.
- Viaja por divertimento ou as suas viagens têm de ter sempre
uma componente cultural?
uma componente cultural?
- As duas coisas. Por exemplo, a Índia conheci porque fui fazer
a série ‘Equador’, estive a filmar durante quinze dias e depois
aproveitei para ficar mais tempo para conhecer melhor o país.
Viajo culturalmente para conhecer novos países, povos, línguas e
costumes.
a série ‘Equador’, estive a filmar durante quinze dias e depois
aproveitei para ficar mais tempo para conhecer melhor o país.
Viajo culturalmente para conhecer novos países, povos, línguas e
costumes.
- Antes de partir trabalhava sobretudo para a TVI. Tinha contrato
de exclusividade?
de exclusividade?
- Sim, tinha.
- Não achou que era muito arriscado perder um contrato desse tipo?
- É óbvio que é arriscado desistir de uma estabilidade dessas.
Eu sou muito inquieto e corro sempre atrás da minha felicidade, da
minha realização e dos meus sonhos. Prefiro arriscar, mergulhar de
cabeça mesmo sem saber no que vai dar. Depois tenho o retorno das
minhas acções e pago a factura daquilo que faço.
Eu sou muito inquieto e corro sempre atrás da minha felicidade, da
minha realização e dos meus sonhos. Prefiro arriscar, mergulhar de
cabeça mesmo sem saber no que vai dar. Depois tenho o retorno das
minhas acções e pago a factura daquilo que faço.
- Nunca se arrependeu de ter escolhido a área da representação?
- Jamais. Foi sempre o que eu quis, desde pequeno.
- Sempre apostou muito na carreira. É formado na Escola
Profissional de Cascais, mas prosseguiu estudos dramáticos no
estrangeiro. Porquê?
Profissional de Cascais, mas prosseguiu estudos dramáticos no
estrangeiro. Porquê?
- Não gosto de estar quieto e sempre tive uma ânsia enorme de aprender.
- Portugal não tem escolas suficientemente boas para formar actores?
- Antes pelo contrário. Temos professores excelentes e aprende-se
imenso com eles. Mas no estrangeiro trabalhamos noutra língua
e pude fazer musicais, que na altura ainda não havia cá.
Lá fora têm outra tradição, que não é melhor mas é complementar.
imenso com eles. Mas no estrangeiro trabalhamos noutra língua
e pude fazer musicais, que na altura ainda não havia cá.
Lá fora têm outra tradição, que não é melhor mas é complementar.
- Já fez televisão, teatro e cinema. Em qual dos três se sente mais
realizado?
realizado?
- A maior parte das vezes não tem a ver com o meio, mas sim com as
pessoas e com o projecto. Para mim, a satisfação é como para os cantores,
uma coisa é estar no estúdio e outra é um concerto ao vivo.
Nesse aspecto, o teatro é o teatro, é bom saber que estão várias
pessoas a ouvir aquela história e receber aplausos no final
da peça é muito gratificante. A televisão é a coisa mais passageira,
o cinema é uma arte que é sempre vista e revista e o teatro é o
momento e acabou.
pessoas e com o projecto. Para mim, a satisfação é como para os cantores,
uma coisa é estar no estúdio e outra é um concerto ao vivo.
Nesse aspecto, o teatro é o teatro, é bom saber que estão várias
pessoas a ouvir aquela história e receber aplausos no final
da peça é muito gratificante. A televisão é a coisa mais passageira,
o cinema é uma arte que é sempre vista e revista e o teatro é o
momento e acabou.
- Além de representar, também escreve. Começou por vontade própria?
- Comecei a escrever muito cedo. Alguém sabia que eu tinha vontade
de escrever e contar histórias e propuseram-me escrever um episódio
de ‘Casos da Vida’, na TVI. Fiquei fechado em casa durante quinze
dias, com o telemóvel desligado, e mesmo sem ter prática nenhuma
esforcei-me e consegui. Foi a prova de fogo e saiu bem. Fiquei muito
contente.
de escrever e contar histórias e propuseram-me escrever um episódio
de ‘Casos da Vida’, na TVI. Fiquei fechado em casa durante quinze
dias, com o telemóvel desligado, e mesmo sem ter prática nenhuma
esforcei-me e consegui. Foi a prova de fogo e saiu bem. Fiquei muito
contente.
- E quando é que vamos ver um filme de Marco D’Almeida?
- Havemos de falar, espero eu (risos).
- Tem algum projecto grande em mente?
- Todos os projectos que nós fazemos devem ser grandiosos,
mas depois se é grandioso ou não logo se vê. Tenho sempre ideias,
aliás, acho que é uma das minhas principais características.
mas depois se é grandioso ou não logo se vê. Tenho sempre ideias,
aliás, acho que é uma das minhas principais características.
- Com tanto trabalho, tem tempo para a sua vida pessoal?
- Sim, é tudo uma questão de equilíbrio. Há momentos em que o
trabalho me ocupa mais tempo, mas eu sei que depois vou ter de
compensar não só pelos outros mas também por mim.
trabalho me ocupa mais tempo, mas eu sei que depois vou ter de
compensar não só pelos outros mas também por mim.
- É muito ligado à sua família?
- Sou e não sou. Não preciso de estar sempre com a minha família,
mas preciso de saber que está tudo bem. Contamos uns
com os outros, incondicionalmente, mas não tenho necessidade de lhes
ligar todos os dias.
mas preciso de saber que está tudo bem. Contamos uns
com os outros, incondicionalmente, mas não tenho necessidade de lhes
ligar todos os dias.
- Ainda não tem filhos. Gostava de ser pai?
- Sim, quando fizer 40 anos. Gostava que fosse o meu próximo passo
em termos pessoais. Acho um bocadinho disparatado ser pai ou mãe aos
20 anos. Ter filhos é de certa forma condicionante, por exemplo, s
e eu já fosse pai esta mudança para Espanha teria sido mais complicada.
Eu ainda não quero isso mas hei-de querer. Não quero ser um pai
ausente, quero acompanhar o crescimento do bebé e para isso é preciso
abdicar de algumas coisas. Até agora ainda não quis ser pai por estas
razões.
em termos pessoais. Acho um bocadinho disparatado ser pai ou mãe aos
20 anos. Ter filhos é de certa forma condicionante, por exemplo, s
e eu já fosse pai esta mudança para Espanha teria sido mais complicada.
Eu ainda não quero isso mas hei-de querer. Não quero ser um pai
ausente, quero acompanhar o crescimento do bebé e para isso é preciso
abdicar de algumas coisas. Até agora ainda não quis ser pai por estas
razões.
- Tem sido uma decisão ponderada?
- Sim, nunca foi uma coisa do género ‘vou adiar’, foi simplesmente
porque eu queria viver e não ter essa responsabilidade. A minha
profissão implica, por vezes, estar muito tempo fora e não queria
ter de passar por isso. Como vejo a minha vida, muito agitada,
acho que ainda não estou preparado para ser pai. Quero estar,
mas ainda não estou.
porque eu queria viver e não ter essa responsabilidade. A minha
profissão implica, por vezes, estar muito tempo fora e não queria
ter de passar por isso. Como vejo a minha vida, muito agitada,
acho que ainda não estou preparado para ser pai. Quero estar,
mas ainda não estou.
INTIMIDADES
- Quem gostava de convidar para um jantar a dois?
- O rei Juliano, do filme ‘Madagáscar’.
- Quem é para si a mulher mais sexy do Mundo?
- A minha vizinha da frente.
- O que não suporta no sexo oposto?
- Isso depende de pessoa para pessoa.
- Qual é o seu maior vício?
- Música.
- Qual foi o último livro que leu?
- ‘O Comboio Nocturno para Lisboa’, de Pascal Mercier.
- O filme da sua vida?
- Não consigo escolher. Há vários filmes que marcaram momentos
da minha vida, mas não consigo escolher apenas um.
da minha vida, mas não consigo escolher apenas um.
- Cidade Preferida?
- Nova Iorque.
- Um desejo?
- Conseguir realizar filmes.
- Complete. A minha vida é...
- Bela.