quinta-feira, 7 de maio de 2015

Entrevista ao Jornal de noticias sobre o filme 20,13 O Purgatorio



JN | A sua personagem é central na trama de "20,13". Como é que foi ter um filme desta dimensão em cima dos ombros?

Marco d'Almeida | Na altura, senti que era um trabalho de grupo, não senti toda essa responsabilidade. Preocupei-me com o trabalho da relação do alferes Gaio com cada um dos outros, tendo em mente que ele um pouco 'outsider' com ideologia própria - não vive na caserna, não tem mulher lá dentro.


Como decorreu a rodagem?

O ambiente foi excepcional. Havia um ambiente de grupo e eu quase tinha de me distanciar em relação a eles. A personagem pedia isso.


Como foi trabalhar com armas?

Há um primeiro lado de brincadeira, o lado da ficção. Para nós, fazer um filme desta natureza, não é usual. Pegar em G-3, em canhões... Havia esse lado de putos a brincar com armas. Durante o treino foi tudo muito engraçado. Depois o filme começou a ganhar espessura.


Houve alguma cena perigosa?

Houve algumas situações de perigo, perigo calculado. Mas houve situações reais. O treino com dois oficiais demorou sete dias. No princípio foi uma brincadeira, mas ao segundo dia tive logo de comandar a companhia e já estava a gritar com eles todos. Ao terceiro dia já ninguém me podia ver à frente.


Onde foi buscar inspiração para compor a personagem?

Quando li o argumento achei que todas as outras personagens estavam mais bem definidas, ao nível dos conflitos. Depois houve um trabalho mútuo e progressivo, de o ir enchendo. É uma personagem subtil, contida, o que lhe deu um lado humano, muito mais diverso.


Qual a sua relação com a época?

Sou de Moçambique. Nasci uma semana antes da guerra rebentar e vivi lá até 1980. Lembro-me de histórias - o meu pai e o meu tio estiveram na guerra colonial. Mas não me quis basear nisso. As histórias que há de família são muito concretas, como quando íamos a Mueda e víamos camiões a arder.


Qual acha que é a importância de um filme como este?

Não acho que estejamos a lidar com fantasmas. Nesta história a guerra é um pano de fundo para uma investigação. De repente, parece que não passámos por aquilo. Quando se fala com a malta mais nova, não sabem que Portugal mandou soldados para a guerra. E não foi assim há tanto tempo... A guerra colonial devia estar mais presente em nós, não só no cinema.

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